“A literatura é um exercício de alteridade”. É nessa toada que o escritor e jornalista curitibano Jonatan Silva constrói Histórias mínimas (Kafka Edições), seu segundo livro de contos. Examinando os absurdos do cotidiano, o autor cria um evangelho da busca, elevando as situações-limite à última potência. Os contos – como fragmentos da realidade – criam um diálogo vertiginoso e espinhoso em torno da ideia de estranhamento e de ilusão.
E é por meio da ruptura, das ligações e relações que se interrompem, que Histórias mínimas se releva um livro imenso: um ponto de contato entre o real e inimaginável. Em um momento em que a cultura é subjugada, o escritor faz do livro uma peça fundamental para que se possa entender o mundo. “A minha literatura”, explica Silva, “é, antes de tudo, um lugar de encontro”.
No limiar da narrativa, Histórias mínimas brinca com as possibilidades do intangível. Seja o pianista que arranca as próprias orelhas para se livrar do som desafinado do instrumento ou a mulher que é forçada à fidelidade porque lhe acabaram os amantes, os personagens de Jonatan Silva são a metáfora perfeita para uma sociedade à beira do abismo. “Abrir um livro é o ler o outro. É experimentar o mundo sem sair do lugar”, conclui.
Os contos que compõem o volume são relatos sobre a invisibilidade, o estar e não estar: um convite ao não lugar. Por isso, não é exagero dizer que Histórias mínimas é uma colcha de retalhos de influências: passeando de Franz Kafka e Robert Walser a Dalton Trevisan e Jamil Snege. Nesses caminhos – ora sinuosos, ora iluminados –, Jonatan Silva se confirma como uma voz importante da nova geração de escritores paranaenses.
Se em O Estado das coisas, publicado em 2015, o escritor buscava uma voz própria, tecendo ali o início do seu universo absurdista, com os textos de Histórias mínimas existe uma sensação de reencontro e ressignificação. Os relatos são como pequenos diamantes, lapidados com minúcia, cuja complexidade se revela devastadora.
É nos detalhes que mora o Diabo, mas também onde habita as pequenas salvações do dia a dia. Cabe ao escritor, como testemunha e relator da barbárie, transformar tudo em arte. E isso, Histórias mínimas, sem sombra de dúvidas, faz. Na urgência, e na necessidade premente de reflexão, esse é um livro necessário para transformar o carvão em brasa. “A linguagem é, como diria William Burroughs, um vírus”, resume Silva.